Há pessoas que valem zero na nossa vida. Pode ser uma, duas, cinco, dez. Não interessa. Ninguém dita quantas são. É a vida que decide quantas pessoas zero nos dá. São pessoas que valem zero. Pode ser a nossa mãe, o nosso irmão, o nosso pai ou os três. Pode ser a nossa melhor amiga ou o nosso companheiro de viagens. Também pode ser o nosso grupo de infância, aquele amigo que está longe ou uma mão cheia de amigos perto. Pode ser a pessoa que escolhemos para o resto da nossa vida. Um zero. Há pessoas que realmente valem zero.
São pessoas que amamos. Amamos com a força das entranhas do nosso ser. Aquele amar profundo que muitas vezes disfarçamos com alguma leveza, com um ar ligeiríssimo muitas vezes ridículo. Uns sabem que os amamos assim, outros têm dúvidas. Nem sempre lhes mostramos o quanto os amamos ou o quanto lhes queremos bem. Mas mais do que lhes querer bem é exigir-lhes estar bem. Aos zeros – ou ao zero – nós exigimos as atitudes certas. Queremos que sejam e façam tudo bem. Mais do que qualquer outra pessoa. Os zeros têm de ser os melhores. Em tudo. Em todas as áreas. Os zeros têm de pensar mais rápido do que todos nós, mais sabiamente. Devem ser simpáticos, tolerantes e fazer sempre a coisa certa. A nossa coisa certa. Não a deles. Aos zeros nós não admitimos erros, mas jamais vamos admitir isso. Queremos sentir-lhes a garra da vida, mesmo nos Domingos das nossas semanas, aqueles dias em que é suposto bebermos chá sem horário, dormirmos sem regras e andarmos de pijama. Se assim o quisermos. Mas os zeros não. Os zeros têm de dizer a palavra certa, no momento indicado, à pessoa certa. Quando estrangulados os zeros manifestam-se contra nós. Exigem liberdade e demonstram sinais de frustração. Em casos mais graves chega mesmo a ser exaustão. Nós cansamos os zeros. Quando confrontados com isso, defendemos que só queremos o bem dos zeros. Para que eles sejam grandes, enormes, os melhores zeros do mundo.
São eles que têm a importância mais cavada na nossa essência. Os zeros estão na nossa vida para nos ensinar a amar, para nos lembrar que essa perfeição exigida ao ser humano só mora nas quatro paredes do nosso cérebro. Que não existe no mundo lá fora, o único em que a nossa atenção deve estar centrada. Não existe aos olhos do outro, que vê a perfeição da forma que ele quiser. Porque tem liberdade para isso.
Os zeros ensinam-nos a esperar zero, a criar zero expectativas no outro. Porque a beleza do outro está no inesperado, na liberdade de ser, sem justificações. Os zeros ensinam-nos a amar, só por amar, sem exigências, sem pedidos. Desconstroem-nos por dentro. Fazem-nos pensar, explorar o que de pior temos. Exigir. Pedir mais. Querer sempre mais. Deixam-nos aos pedaços para que os possamos analisar. Cada um deles. Os zeros funcionam como espelhos, mostrando-nos aquilo que não queremos ver em nós. Depois, ajudam-nos a arrumar a casa, a limpar a alma e a esperar zero. A esperar zero do outro e a ser feliz assim. Sem exigências. Só por amar. Só por ser.
O que dizer/escrever quando o sentimento fala mais do que qualquer palavra?
Um enorme bem haja a ti “Pips” 🙂
Um beijo com uma saudade tremenda.
Obrigado!