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De sentidos apurados no Sri Lanka

viagens

19 Set

A viagem ao Sri Lanka ainda está muito presente na minha pele. Todas as minhas viagens ficam armazenadas numa caixa precisosa no meu coração. Talvez a mais preciosa. Mas só chegam a esse lugar depois de me percorrem a pele, os sentidos e a alma. O Sri Lanka está nesse processo, até arranjar o seu lugar confortável.

Quem vai ao Sri Lanka tem de estar preparado para uma coisa: subir. Montanhas, estradas, escadas. Para a contemplação precisamos sempre de sofrer, dar de nós, mas posso garantir-vos que vale cada gota de suor, cada suspiro.

A chegada

A chegada é dos processos mais intensos para quem visita este país. Se a entrada for pelo aeroporto de Colombo a absorção da nova cultura começa ai. Pessoas, muitas pessoas, muitas delas coloridas, vestidas da cabeça aos pés de cores berrantes. Cheiros, intensos, fortes e quentes. Mais pessoas. Tocam-te no ombro, no braço, tudo por um negócio perfeito de táxi, autocarro ou qualquer outro transporte. “Tudo se arranja”. Outros sorriem-te como se te esperassem. Tu passas, olhas para trás e eles continuam ali, a olhar para ti e a sorrir. Como quem espera um olá.

A viagem até ao centro da capital é já por si uma aventura. Quisemos seguir as recomendações dos nossos amigos e, por isso, optámos por fazer esse percurso de autocarro. Os autocarros merecem lugar de destaque neste artigo pelo seu aspecto. Altamente coloridos, de janelas abertas, cheios, tão cheios. Lotados de pessoas, sacos, colunas, luzes que piscam como se fosse sempre Natal. Os amortecedores? Não existem. Há sempre bancos rasgados, ventoinhas penduradas que parecem não cumprir com o seu objectivo de tão velhas que estão. A qualquer momento, com os trambolhões que a estrada provoca, parecem cair. Mas tudo falso alarme.

Colombo é uma cidade que me pareceu caótica. Muitas buzinadelas, muitas pessoas, mesmo muitas pessoas, muita música nas milhares de barracas de comida, sapatilhas, malas, e tantas outras coisas mais. O lixo está fortemente presente e por sabermos de antemão que Colombo merecia apenas uma visita rápida, não nos perdemos por lá muito tempo. Por isso, para quem anseia um contacto com a natureza não é em Colombo que isso acontecerá.

Comboio

Quem viaja até ao Sri Lanka sabe para o que vai. Muitas viagens de comboio fazem parte do roteiro. Um bom par de horas naquelas carruagens coloridas que atravessam os campos de chá. Durante a preparação para a viagem li em vários guias e blogs que era uma das viagens mais bonitas do mundo. Um must do na nossa bucket list. É de facto um momento memorável para quem adora viajar. A paisagem é bonita, merece a nossa contemplação, mas são as pessoas do lado de fora que nos dizem adeus, ou as crianças que correm em paralelo ao comboio, como se de uma competição se tratassem, que guardo na memória.

Gastronomia

Para quem não aprecia picante, caril e óleo de coco, o Sri Lanka pode ser uma difícil aventura gastronómica. O frango tem caril, picante e óleo de coco, o arroz também. O peixe é embrulhado numa cama de picante que nos faz questionar sobre a nossa própria sobrevivência. E desengane-se quem se considera preparado para as chamuças. Em qualquer canto e esquina há alguém a vender chamuças – inclusive nos comboios – que na realidade deveriam ser consideradas saquinhos-de-picante-ambulantes. Puros laxantes naturais. Ao quinto dia o processo de digestão pode apresentar falhas, mas nada que um dos seus milhares de chás não resolvam. Highligts para o Kottu com galinha e queijo preparado por um simpático senhor que transformou quatro paredes num restaurante que mais se parece uma sala de estar. O sofá e a estante de livros convidam-nos a ficar. A comida convence-nos a voltar.

Pessoas

A ter de escolher diria que o que me faz recordar o Sri Lanka são as pessoas. De uma simpatia e disponibilidade ao outro absolutamente memoráveis. São elas que mesmo sem saber como comunicar, nos convidam a entrar nas suas casas, a estar e conhecer a família. Mesmo sem falarmos a mesma língua são elas que nos ajudam quando estamos perdidos, nos agarram pelo braço ordenando que as sigamos. Tudo isto, sempre de sorriso rasgado, destacando uns grandes dentes. Os miúdos querem sempre fazer perguntas. Quem somos, de onde somos, como nos chamamos. Cobiçam-nos uma vida que não imaginam. E nós cobiçamos-lhes a simplicidade de ser. O Sri Lanka mistura tudo numa grande trapalhada. Mas torna-se familiar por este acolhimento. Talvez seja essa a magia que torna o pôr-do-sol do Sri Lanka o mais bonito que alguma vez já vi.

 

Cães de rua

Se eu pudesse, se fosse possível sequer, tinha trazido comigo os mais de “500 mil” cães de rua que vi. Estão por todo o lado, nas ruas, nos cafés, nos trilhos, na Nine Arch Bridge, bem no alto da Sigiriya ou no percurso até ao Little Adam’s Peak. São alimentados pela população e pelos turistas e vão sobrevivendo entre caixotes de lixo e vencendo bulhas com outros cães. Não é um cenário bonito de se ver e, parece-me ser um atentado à saúde pública tal o número de carraças que vi em apenas um dos cães que achei estar morto.

 

Dicas:

1 – (Ella) Little Adam’s peak. Implica um trilho de dificuldade média. Até ao ponto mais alto somos brindados por campos de chá, onde facilmente podemos interagir com as senhoras que estão na apanha das folhas. Elas explicam-nos quais as melhores, como cheirar e até nos oferecem uma mão cheia delas.
2 – Viagens de comboio e autocarro sempre que possível.
3- Sigiriya. Preparem-se para subir, subir muito. Pesquisar antes de visitar e perceber a dimensão histórica daquele que não é apenas uma rocha qualquer.
4 – Parque Nacional Yala. Obrigatório aos amantes dos animais.
5 – Praias: alugar uma mota e decidir em qual praia mergulhar entre Galle e Mirissa.
6 – (Ella) Nine Arch Bridge faz-nos ficar sem ar. Consultar os horários de passagem dos comboios e apreciar como a natureza torna o mais simples pormenor em algo memorável.
7 – Jardim Botánico de Kandy.
8 – Aos mais resistentes a subida ao Adam’s Peak (2243 metros).
9 – Comida. Experimentar tudo.
10 – Sorrir, a tudo e todos. Conversar com as pessoas na rua, aceitar quando nos pedem para tirar fotografias. Aproveitar a hospitalidade e os sorrisos rasgados. São grátis e fazem bem à saúde.

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Não sei se o azul combina com o vermelho ou se este ano os corsários estão na moda. Não decoro nomes, mas memorizo caras. Embora depois confunda tudo…

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𝙵𝙰𝚁 ✨
[✨ Não é preciso muito, quando se ama tanto. [✨ Não é preciso muito, quando se ama tanto.

Se lhe perguntassem qual era o ingrediente secreto para a felicidade ela soltava a resposta como flecha certeira: é amar. 

Não é o amor. É amar. Que interessa um par de pesos de amor a alguém que não sabe amar? 

Mas o segredo está, dizia ela, em saber amar as coisas pequenas. Amar a vida, mas principalmente as suas partículas minúsculas ! 

A brisa. O sol. E os raios. A chuva e as gotas. As flores. A relva a tocar no pé. O sabor dos alimentos que nascem da terra. A combinação da bateria, do piano, da guitarra. A melodia.  O som das palavras do outro quando nos fala das dores, das conquistas, da lista do supermercado. A gargalhada. E as gargalhadas. Daquele que passa na rua. Do que se senta na mesma mesa. Do que nos abraça. O bater do coração quando fechamos os olhos. Amar o dedo do pé até à ponta do nariz. A pestana, o dente torto, as calças apertadas. Amar. Os pensamentos positivos. Os dias tortos e as ruas direitas. 

Mas, avisou, é preciso saber Amar.  Não se ama porque se quer. Não se ama só dizendo que se ama. Não é fácil amar. Aí não é, não! 

Amar aquilo que nascemos a amar é fácil. Mas isso não é amar. É preciso amar por completo, e isso sim, disse ela, é difícil. 

Porque amar por inteiro implica treino, muita insistência, paciência e resiliência. Obriga-nos aos dias maus. Aos pensamentos destrutivos. Aos ataques de pânico. Para relembramos que a decisão está na palma das nossas mãos. Para nos voltar a colocar ao leme. Ao leme das nossas próprias vidas. 

Amar. Amar o dia seguinte, aquele em que nos levantamos, a medo, mas vamos. Aos tropeções, até voltar ao caminhar seguro. 

Bem, isso sim é saber amar! 

E quando soubermos amar tanto perceberemos que nunca foi preciso muito. Sempre esteve ali, bem guardado dentro de nós. 

A decisão de ser. De ir e fazer. De contrariar. De amar. 

De saber amar. ✨]
[ ✨ Às vezes tendo a exagerar. Gosto de sentir [ ✨ Às vezes tendo a exagerar. Gosto de sentir emoções e tropeço-me entre sentir em cheio ou não sentir. A apatia sempre me aterrorizou. É quando estou lá que tenho a ideia clara e firme de tudo aquilo que não quero sentir. O vazio. 

Seria muito ingrato da minha parte não vos dizer que esta experiência tem sido muito mais enriquecedora do que difícil. De facto, foram muito poucos os momentos que senti dificuldade, tendo até de me esforçar para os lembrar. E só me ocorre um. 

Seria também muito errado dizer-vos que este processo não me acrescentou. Acrescentou muito, mas por ser tão pessoal, tão íntimo, tão meu para mim, é-me impossível explicar-vos. Conseguir sequer escrever sobre isso. 

Vão dizer que outros que por aqui já passaram não sentiram o mesmo. É certo. Vão dizer que foi super fácil. Também certo. Vão dizer que foi um esforço terrível. Certíssimo. A viagem de cada um é exactamente isso, de cada um. 

Da minha parte foi uma decisão consciente. Agarrar em 21 dias em branco e mergulhar em leituras que me fizessem reflectir. Em histórias que me dissessem tudo. Em pessoas que me fizessem vibrar. Em decisões. Das mais sérias às mais vulgares. Decidi colocar tudo aquilo que a vida me permite,  em ordem. Num lugar organizado dentro de mim, da minha cabeça, da minha alma. Tudo o resto, deixei que fossem outros a tratar, que fosse a vida a decidir. 

Neste quarto entraram mil e umas quantas histórias. Nomes, pessoas, risadas e muita, tanta, partilha. A minha agenda chega ao fim destes 21 dias toda rabiscada, entre reuniões via zoom, gravações de conversas e planos, tantos planos para o momento seguinte. O futuro é visto assim, no segundo seguinte. Só esse. 

Já sinto o cheiro da meta. Já consigo visualizar-me a sair, já me coloco no regresso ao trabalho, à secretária e à minha equipa que todos os dias esteve aqui comigo. Já me sinto lá fora, num campo de ténis, num almoço entre amigos e numa passagem de ano fora de horas. 

(Continua 👇🏻 )
[ NOVO EPISÓDIO DO NOSSO LINDO E INSPIRADOR PODCA [ NOVO EPISÓDIO DO NOSSO LINDO E INSPIRADOR PODCAST 

Hoje trago-vos a @psicologa.deborabentocorreia, numa conversa cheia de carinho e sorrisos, sobre confinamento, saúde mental, rotinas e organização. Eu deixei que o meu quarto de clausura se inundasse no brilho do sorriso da Débora, ela, na sua voz doce e cheia de conteúdo, partilhou comigo os melhores comportamentos a assumir perante esta nova realidade. 

Falamos sobre cuidado, cuidar de nós e do outro. De amor próprio. Com desafios à mistura. 

Neste segundo round de confinamento, comecem em grande e em boa companhia.

Ouçam, ouçam. Enquanto cozinham, descansam, exercitam ou tomam banho. O que quiserem. Mas ouçam. Que consigamos todos aprender muito e ser ainda mais. 

✨ 

LINK NA BIO PARA AS DIFERENTES PLATAFORMAS 🎙🤍 ]
[ ✨ Continuo impressionada com a secura da minha [ ✨ Continuo impressionada com a secura da minha pele. Não que me incomode, é um facto, não incomoda. A não ser o nariz. Sinto o desconforto, borrifo água termal quando me lembro e se me dedico muito a senti-lhe a dor, fico chateada com o mundo. 

A verdade é que começo a apresentar sinais de frustração, ainda não percebi bem porquê, mas talvez seja esta recta final, o “está quase” que a minha mente insiste em dizer assim que acordo. 

Ao longo dos últimos dias, vocês, desse lado, questionaram-me muito sobre o número de dias de quarentena. Cheguei mesmo, no início, a escrever sobre isso, explicando que o Governo de Macau assim o decidiu devido, segundo os jornais locais, ao aparecimento da nova estirpe no Reino Unido. 

Lembro-me do dia do anúncio, estava em Portugal, a dois dias de me meter dentro de um avião rumo a Macau, e começaram a pipocar imensas mensagens no meu telemóvel. Eram os meus amigos de cá. “Pipinhas, 21 dias”, “Filipa, estás a ver a conferência?”, “Pipinhas vão aumentar a quarentena”, foram algumas das mensagens que recebi. 

O meu coração disparou, comecei a transpirar das mãos e acreditem, acreditem mesmo, quando vos escrevo que fui invadida por uma raiva que poucas vezes senti. 

Senti raiva de tudo. Da porcaria da pandemia. Do vírus. Dos meses intermináveis de limites, confinamentos, notícias, teorias da conspiração, exageros e desleixo. Depois de descarregar a minha raiva, sentei-me no sofá, abracei quem me acolheu e disse “só estou cansada, mas também quem já fez 14 dias uma vez, faz 21 na boa, né?!”.

Não. Vinte e um dias fechada num quarto de hotel é realmente demasiado tempo. Não é óptimo para descansar. Não é um retiro. Não são férias. É estar trancado num quarto, sem poder abrir a janela, sem ter autorização para colocar um pé no corredor e são quatro – QUATRO – zaragatoas nas narinas. Nunca pensei dizer isto, mas acho que enjoei a frango grelhado.

A determinada altura começamos a questionar se um esforço mental tão grande vale realmente a pena. Entramos numa linha entre não saber se queremos ir lá para fora ou ficar aqui para sempre.

(Continua 👇🏻)
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