Fica logo aqui. Tão pertinho. Uma hora “e picos” e aterramos no aeroporto de Da Nang. Sem distracções, o caminho é mais do que certo: Hoi An. Se há coisa que o Vietname é, é barulhento, mas é ali, entre as ondas do mar e a cidade mais bonita daquele país, que recarregamos energia para o que ainda está para vir.
Visitei pela primeira vez Hoi An em 2015. Era a altura da Páscoa e eu e uma amiga aproveitámos um par de feriados para “nos metermos ao sol”. Tivemos azar. Ou sorte. Depois de um dia de calor insuportável chegou a tempestade. Foram dois dias completos de trovões, chuva, tanta chuva, e ausência de electricidade. Tinha tudo para dar errado, ser um horror de escapadinha, mas deu tudo muito certo.

Hoi An recebeu-nos com tempo. Tempo para a apreciarmos. Para a conhecer. Para a perceber. Ouvir-lhe a história, apreciar-lhe a arte e sentir-lhe o cheiro. A tempestade levou com ela os turistas, aqueles que embora fomentem o negócio, ocultam o encanto das margens do rio Thu Bom. As ruas estavam quase vazias e, por isso, foi-nos possível pedalar sem medo e caminhar sem encontrões. A falta de electricidade – nunca de luz – obrigou-nos a deixar o telemóvel no quarto, a pegar no mapa e a seguir caminho.
Praia durante o dia, Cidade Antiga à noite
Mas vamos por partes. Aliás, por zonas. Pessoalmente divido Hoi An em duas zonas: a praia e a Cidade Antiga. A praia é exactamente isso, praia. Não é a água transparente das Filipinas ou da Tailândia, a areia suave e branca da Diani beach no Quénia, mas é uma óptima praia. É quente, tem espaço e o mar nem sempre parece uma banheira de água morna. E isso, para os de cá, pode ser profundamente refrescante. Se não estivermos isolados num resort com praia privada, percebemos que os bares e restaurantes coloridos estão por toda a extensão do areal. A escolha musical é variada, a comida é bem fresquinha e há para todos os gostos e alergias. Durante a noite alguns espaços acolhem festas sem hora para terminar, bem ali, com o pé na areia e a sentir a brisa marítima.

Mas Hoi An é muito mais do que isso. Do lado de lá é a Cidade Antiga. É a história de um antigo porto marítimo. É a história dos japoneses, chineses, franceses e até portugueses. É cada lanterna iluminada, cada vela colocada na água, cada barco colorido e cheio de luz. É a resistência à guerra. São as dezenas e dezenas de alfaiates, de modistas e da mão-de-obra barata… É a ponte que liga culturas. É a panqueca de banana, a banca de ovos cozidos, os chapéus em bico e os turistas com esses mesmos chapéus pendurados às costas. Hoi An sabe a menta. Bem fresca. Para os que estão perto, como eu, Hoi An é a escapadela perfeita. É o sonho de casa na praia tornado real.
Um encanto de lugar
De forma a marcar o meu 33º aniversário, organizei uma fugida com os amigos mais próximos a Hoi An. Logisticamente – embora a visita ao Vietname implique um visto para os portugueses – Da Nang é o destino perfeito por ter voo de ida à sexta-feira à noite e de regresso ao domingo. Perfeito.
Ia preparada para um confronto com uma Hoi An bem diferente da cidade que visitei em 2015. A previsão era de sol, muito sol, temperaturas altíssimas. E desta vez “o senhor do tempo” não se enganou. O céu estava azul, o sol queimava, a areia era brasa bem vermelhinha e o mar, bem, o mar parecia o da Tailândia. Sopa.

A Cidade Antiga estava como eu previa. Cheia. Lotada. De pessoas, de lanternas, de motas. São muitos os turistas. Mesmo muitos. Como em quase todas as cidades asiáticas. Há muita gente. Nascem nos canteiros, nas esquinas das ruas, até nos candeeiros. Mas Hoi An, na sua graciosidade e generosidade, permite-nos a existência. Ao contrário de outras cidades, Hoi An não se torna sufocante. Parece crescer, estender-se à medida que as pessoas chegam. Não se mostra confusa, descontente. É serena.
Não sei de onde vem a magia. Não sei se será das suas pessoas. Os vietnamitas sabem receber. Mais do que isso, não nos recebem ou toleram, eles acolhem-nos, fazem-nos sentir em casa, partilham o que de íntimo têm consigo e estão ali, junto a nós, para melhorar o que for preciso.

Claro que do outro lado da moeda há aquele que te tenta enganar com a dança dos milhares e milhões de Dongs. Naquele jogo entre toma-lá-dá-cá-esta-nota-de-mil-milhões-dois-três-ups-já-estás-a-arder-em-10-euros-pumba. Mas não passam de esquemas de fácil resolução. Companhias de táxis ou aplicações com o mesmo intuito (Grab) são a melhor solução.
Voltem sempre
Seja como for, nada lhe tira o encanto. Tudo se transforma em memórias. “Naquela vez, em Hoi An…”. É assim que a recordamos, como um lugar encantado de profundas raízes, que não permite o frenético e tão característico trânsito do Vietname entrar. Ali, onde as ruas coloridas, em tons amarelos e castanhos nos fazem parecer viajar no tempo. É ali naquele lugar protegido – Património da Humanidade desde 1999 – que tudo parece fazer sentido. O espírito está leve, os ânimos calmos e o coração cheio. Na hora da despedida apetece-nos largar tudo, voltar a abrir a mala, olhar os nossos amigos e dizer: eu fico, mas vocês voltem sempre que quiserem!

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