
SOBRE O FAR E A FILIPA
Não sei se o azul combina com o vermelho ou se este ano os corsários estão na moda. Não decoro nomes, mas memorizo caras. Embora depois confunda tudo. Tenho uma memória muito selectiva. Guardo pequenas coisas, as minúsculas. Daquelas que ninguém se lembra. Quase ninguém. Guardo-as como se fossem grandiosas. Para que elas sintam como seria se as luzes do palco estivessem voltadas para elas. Escrevo desde pequena. A minha mãe diz-me que antes de saber escrever já adorava blocos de apontamentos, cadernos rasurados e folhas soltas. Essas eram as minhas favoritas. As soltas. Que voam com o vento. Na China atribuíram-me o nome de “esvoaçante”. Talvez porque ir é o meu verbo favorito, o que escolhi para viver. Tal como o escrever. Nos intervalos entre letras e viagens, vou saboreando os melhores ingredientes do mundo, sempre salpicados com amor. Amo tudo, até aquilo que odeio. Porque o ódio é um amor doente, que só precisa de cura. Como todos nós. O FAR nasce assim, da vontade de não ser em vão. Da vontade de escrever sobre e com amor. Da vontade de ter um espaço onde o barulho, os berros, a dor e a solidão não chegam. Um espaço que sirva para recarregar energias para o que nos espera lá fora. Um cantinho minúsculo no mundo, onde a única coisa que interessa é ser feliz.
