Antes de qualquer outra coisa: este não é um texto a definir Bali como a melhor ilha do mundo. Muito longe disso. Bali não foi um “amor à primeira vista”. Nem sei se é amor. Mas que é alguma coisa, disso não tenho dúvidas.
Conhecida como a Ilha dos Deuses, Bali é destino idealizado por quase todos os meus amigos. Mais do que isso, amigos de amigos, família e família de amigos. Quase todos. Grande parte do mundo quer ir a Bali. Sonhando acordado com as suas praias maravilhosas, a vida zen e as tendências vegan e glúten-free que nos chegam através de blogueiros, amigos e revistas de viagens. Eu percebo, mas discordo.

Confesso que Bali nunca me encheu de entusiasmo e, por isso, nunca se tornou destino prioritário nas minhas viagens. Mas um dia teria de ser. Neste texto vamos assumir – como se nos fosse possível – Ubud como parte independente da ilha. Ubud é uma outra coisa. Cidade muito dona de si, que não se mistura. Essência fortíssima. Mas, já tive oportunidade de vos falar da cidade verde aqui.

Picada do vício
Voltemos a Bali (sem Ubud). A minha primeira impressão não foi simpática. Praias sempre muito cheias, plena Albufeira em época alta. Lojas e mais lojas e outras lojas ao lado de…lojas. Muitos restaurantes atolados de pessoas. As praias em nada se parecem com as fotografias. Areal cheio de gente, água brava – a minha admiração aos surfistas – e lixo. T-A-N-T-O lixo.
Os turistas ocupam cada esquina. Mochileiros aos montes, famílias numerosas ou viajantes solitários. Filas de trânsito, motas em zigue-zague a contornar as longas horas de espera para quem decidiu que contratar um motorista era a melhor decisão. O trânsito é caótico. Tal como vos disse, não foi amor à primeira vista.
No avião, de regresso a casa, sentada ao lado de uma turista brasileira que ia fazer escala a Bangkok, ouvia-a relatar areais de cortar a respiração, águas claras e calmas, praias com espaço. Questionei as minhas opções e fiquei certa de que tinha errado profundamente nas minhas escolhas.

– Foi a sua primeira vez em Bali? – questionei.
– Não amor, já perdi a conta. Bali tem magia, sabe!? – respondeu cheia de certeza e de brilho no olhar.
Na verdade eu não sabia.

Voltar
Alguns meses depois da minha viagem a Bali, tive uns dias de férias que me pareceram perfeitos para uma escadinha. No entusiasmo das pesquisas dei por mim a equacionar uma nova visita a Bali. Estranhei-me. Para além de ter o hábito – ou pelo menos a intenção – de não repetir locais, Bali continuava a não encher-me as medidas.
Escolhi outro destino. Mas Bali ficou-me na cabeça. E alguns meses depois lá estava eu a ceder à vontade e comprei nova viagem para a Ilha dos Deuses. Os destinos foram outros e a sensação foi a mesma. Trânsito, muita gente, menos do que na primeira, mas ainda assim demasiada, areal de não tirar o fôlego, muitas filas para tudo e mais alguma coisa, lojas e turistas. Mas em momento algum me senti arrependida de ter voltado.
Porque foi aí que percebi a magia de Bali. Não é pela beleza. Não são as praias. Nem, definitivamente, a logística. É a essência da ilha. Da poderosa crença daquele povo em alguma coisa. Alguma coisa extraordinária. É uma magia diferente de todos os outros sítios por onde passei. Bali é ilha que fica dentro do nosso coração. Entra sorrateiramente, em jeito desinteressado. Não causa impacto à primeira vista, não espanta, mas não fica esquecida. Não pelo seu exterior, mas pelo seu interior.

Na sua confusão Bali acalma-nos o peito. As dores serenam, as dúvidas apaziguam-se, porque ali reorganizamo-nos. Definimos prioridades. É a sua energia que o faz. A crença de uma vida feliz, rodeados de gentes que sorriem com o coração.
É o respeito que se sente nas ruas a algo superior, a uma força que nos guia, à vontade de viver e ser feliz, a algo extraordinariamente bom. É o ensinamento de que não se vê com os olhos, não se sente com as mãos. É o sexto sentido. Bali é sexto sentido. É energia. Da boa!
Por ser assim, imaterial. É a energia que vem da natureza, das raízes ao centro do nosso ser. É a energia de uns para outros e, mais importante do que isso, de nós para nós. Mesmo para os descrentes. Para os que vivem dentro de uma caixa que nos limita a visão. Turva os sentidos.
Bali é magia. Portanto, sempre que me sinto à deriva, quando quero desligar e respirar, não mais estranho quando a casa dos deuses me surge no pensamento. Como se me chamasse. Como se me dissesse “podes voltar a casa”.

Que escrita fantástica transparente
Eliana
Águeda
Obrigada 🙂 Que bom ler isto!