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E no teu ser diferente, fazer toda a diferença

amor· destaque

16 Nov
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Descobri, quando andava na faculdade, um tremendo gosto em andar de autocarro. Isso ou conformei-me com a única forma – quando os calendários com a boleia não casavam – que tinha para chegar a Leiria. Ganhei-lhe o gosto e desde então as viagens de autocarro relaxam. Sinto-as como pausas no tempo. Durante aquela viagem tenho tempo para pensar, que tanto nos falta. Contemplo paisagens, boas ou más, vejo a vida passar lá fora e a acontecer no banco da frente.

Numa dessas viagens, à minha frente ia mãe e filha. Eu não sei definir idades, mas possivelmente aquela miúda de cabelos tortos e pele clara não tinha mais de 16 anos. Mas posso estar profundamente errada. Não se iludam com a minha certeza oca.

Desta vez a mãe falava-lhe como quem lhe queria tocar no coração. Sabes quando alguém quer ser ouvido quando o seu corpo se inclina para ti. É também sinal que essa pessoa te ama. Procura-te. Em jeito de quem vai dar a pior notícia do mundo, mas muito envolvida na preocupação que só quem ama desinteressadamente tem, a mãe dizia-lhe. Ana, eu sei meu amor, eu sei que não te conformas e eu sei que não és igual aos outros, és diferente, sempre foste uma menina diferente.

Parei a leitura. Afinal, a melhor história estava a acontecer à minha frente, e eu tinha o prazer de ser a única a assistir. Uma sala de teatro só para mim. Quis que a conversa continuasse. Mas não aconteceu. Apeteceu-me tocar no braço da mãe e pedir-lhe para continuar. Afinal o diferente não podia ser tão mau assim, tão limitador. E os ombros da Ana, demasiado altos, em esforço, denunciavam o desconforto. Não aconteceu e eu voltei ao meu livro.

Trinta minutos depois, a Ana lançou à mãe uma bola de fogo. Não dizes que sou corajosa, então eu sou corajosa porque sou diferente, tenho de ser corajosa. A professora de português também veio com essa conversa, não me encaixo é o que vais dizer? Que tenho de me encaixar?

Nem eu nem a mãe esperávamos um ressuscitar daqueles. E ela insistiu… “vais dizer que assim nunca me vou…” e a mãe interrompeu. Não, vou-te dizer que me faltou a coragem para ser diferente, que nunca tive alguém que me apoiasse e me dissesse para seguir os meus ideais, as coisas em que acreditava e que achava certo. Vou-te dizer que não precisas de estar chateada comigo, ou com a escola, ou com o mundo porque o diferente não é mau. E um dia vais perceber isso. E até te digo mais esta – nisto, os meus olhos brilhavam de emoção e o meu coração palpitava – um dia vais perceber que o diferente é bonito, é o que faz de ti a pessoa que serás. Sempre que te sentires sozinha, nessa diferença, lembra-te que num rebanho só a ovelha diferente é que se destaca.

Anos mais tarde, e com muitas outras conversas sobre o mesmo tema, sinto-me feliz de todas as vezes em que me senti sozinha no meu caminho do acreditar. Foram esses momentos que me trouxeram até aqui, com mais ou menos arranhão. São essas escolhas, essas lutas por aquilo em que acreditamos que nos trouxeram ao que somos hoje. Ao aqui e ao agora. E tenho cá para mim que neste momento somos melhores do que no momento anterior. Mesmo quando estragamos tudo, mesmo quando perdemos o norte, mesmo quando disparamos para todo o lado. Porque, como uma amiga me disse hoje, relaxa, não sejas tão dura contigo. Não te pressiones tanto. Estás a fazer o melhor que consegues. A marcar a tua diferença. Hoje, recomeça, nesse caminho, mas se não for o certo, não há problema, outros mil surgirão. O importante é respeitares a tua verdade. E no teu ser diferente, fazer toda a diferença.

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Não sei se o azul combina com o vermelho ou se este ano os corsários estão na moda. Não decoro nomes, mas memorizo caras. Embora depois confunda tudo…

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